Recebi esse texto do amigo Professor Eduardo e decidi compartilhar com os leitores. Retirei alguns trechos do texto devido o mesmo ter sido escrito em outubro. Se quiser ler outros textos interessantíssimos, acesse o endereço eletrôncio http://www.domtotal.com/colunas/coluna.php?artColId=34
O texto foi escrito por Maria Clara Lucchetti Bingemer,
professora do Departamento de
Teologia da PUC-Rio
Não deixa de ser algo melancólico que em pleno mês de outubro, no qual se
comemora o Dia do Mestre, estejamos vivendo esse clima surreal e iníquo dos
enfrentamentos entre professores e polícia nas ruas do Rio de Janeiro.
E quando
a violência passa a presidir os acontecimentos, a melancolia se transforma
em indignação e até mesmo em raiva.
Não é por ser professora que empenho toda a minha solidariedade aos
grevistas. Até porque trabalho numa universidade privada. E aí é outra
coisa. Mas o que se passa na rede pública é, no mínimo, vergonhoso para
falar de maneira delicada e discreta. Vejo Mariana, menina de doze
anos, filha de Ana, que mora aqui em casa, sem aula há mais de um mês.
A mãe se preocupa. E realmente isso não é bom. Mas o fato de
Mariana estar sem aula é apenas a ponta de um processo que se arrasta há
anos, há décadas de aviltamento do salário e da carreira daqueles que
deveriam ser os profissionais mais valorizados de toda a cidade, de todo o
país.
Que profissão é mais importante que a de professor? O que pode ser
mais fundamental em uma sociedade do que a educação, a formação das pessoas,
do que aqueles que as ajudam a ingressar na cidadania, nos direitos humanos,
no amplíssimo universo do saber? O que pode ser mais importante do que
a produção e transmissão de conhecimentos? O que faz um país senão
isso?
O professor é a chave de uma sociedade livre, democrática, politizada e
autônoma. Sem educação não se pode pretender ser povo de cabeça erguida, que
analisa a realidade, tira conclusões e toma decisões. Sem educação não
se constrói uma nação.
Muitos homens públicos têm batido nesta tecla repetidamente. Alguns já
morreram, como o grande Darcy Ribeiro. Hoje temos Cristovam Buarque
que não fala nem escreve sobre outra coisa, esperando que um dia
resulte. E os mais jovens: Chico Alencar, entre outros. Parece
não adiantar. Tudo indica que só prosperam aqui os programas
eleitoreiros, dos resultados imediatos, que não visam a transformações
profundas e a longo prazo.
As crianças vão à escola e têm uma porcentagem ínfima das aulas que deveriam
ter. Algumas vão por causa da merenda, pois o boletim, ao final
do ano, está coalhado com a maldita sigla que indica o desleixo pela
educação fundamental : SP ( Sem Professor). E um professor tem que
correr cidade afora com duas ou três matrículas para trabalhar em dois ou
três estabelecimentos e forçosamente prejudicar a qualidade do ensino que o
aluno receberá na outra ponta.
Isso é o dia a dia triste e desanimador da educação brasileira. Mas
quando a categoria vai às ruas, faz greve por melhores salários e condições
de trabalho e além de não conseguir o que reivindica apanha, aí já é
demais. É simplesmente indecente ver professores com o rosto
ensanguentado por haver defendido um colega contra a truculência da
polícia. Dá vontade de chorar ver professoras com anos de sacrificado
e meritório magistério sendo contidas por policiais armados e protegidos por
escudos.
Talvez muitos deles, muitas delas, tenham ensinado àqueles que hoje os
atacam. Muito provavelmente, por terem estudado em escola pública,
vários desses que hoje servem a um Estado injusto e violento, sentaram-se
nos bancos da sala de aula onde eles e elas ensinavam. E o
conhecimento que têm e que lhes permitiu fazer um concurso público, devem a
seus professores, que com todas as dificuldades, devido às péssimas
condições e baixos salários, transmitiram o que era
possível.
É perfeitamente compreensível desejar a manutenção de ordem nas ruas e a
ausência de arruaças e quebra-quebra. Mas mandar a PM reprimir os
professores armada com spray de pimenta, gás lacrimogêneo e
cassetete...sinceramente. Não se está lidando com criminosos,
senhores. Nem com arruaceiros profissionais. Diante de vocês
estão os trabalhadores da educação que reivindicam melhores condições para
poder formar as futuras gerações de brasileiros. (...)
(...) Enquanto isso, os salários dos políticos sobem, a “evolução patrimonial” de
outros atinge níveis estratosféricos. Gastam-se milhões para fazer e
desfazer estádios e enfeitar a cidade para a série de eventos que aqui
tomarão lugar a partir de 2014. E, no entanto, a educação amarga dias
desanimadores e vê encurtar seus horizontes. As novas gerações não podem
esperar grande coisa do futuro. Ações extrínsecas que maquiam o rosto
do país são mais importantes que uma educação séria e de qualidade a eles
oferecida. De luto por seus professores, a cidade comemora o Dia do
Mestre em profunda tristeza. Oxalá os responsáveis abram os olhos e
vejam para onde estão conduzindo o futuro da nação, o amanhã de suas
crianças.
A
teóloga é autora de “O mistério e o mundo – Paixão por Deus
em tempo de descrença”, Editora Rocco.
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